A Construção social dos mecanismos de qualificação e certificação entre reciprocidade e troca mercantil
Résumé
Qualquer processo de qualificação que garante a origem, a especificidade e a qualidade de um produto pode permitir reduzir os efeitos de concorrência e especulação característicos da troca mercantil. Faço a hipótese que a qualificação do produto introduz uma dimensão de reciprocidade numa relação de troca mercantil. Os processos de qualificação podem contribuir para estabelecer uma relação de reciprocidade simétrica entre produtor e consumidor. No entanto, os mecanismos de qualificação e certificação podem também introduzir a exclusão de certos produtores e/ou consumidores quando gera um aumento dos custos de produção. Portanto necessita-se uma articulação ou interface permitindo um dialogo entre a lógica de troca da relação mercantil e a lógica de reciprocidade no seio da dinâmica de qualificação. Mas a interface oferecida pelos mecanismos de certificação da qualificação pode obedecer a sua vez, tanto a lógica da troca mercantil, como a lógica da reciprocidade ou até à dinâmicas hibridas ou mistas. O artigo funda-se numa comparação entre três sistemas de certificação de produtos agro-ecológicos no Brasil: certificação externa de grupo, certificação participativa e co-certificação. PALAVRAS Chave: Qualificação de produtos. Sistemas de certificação. Reciprocidade. Troca mercantil. Brasil. Introdução Esse trabalho mobiliza a teoria da reciprocidade em antropologia para analisar o processo de qualificação de produtos da agricultura familiar no Brasil. Qualquer processo de qualificação que garante a origem, a especificidade e a qualidade de um produto pode permitir reduzir os efeitos de concorrência e especulação característicos da troca mercantil (SAUTIER; BIENABE; CERDAN, 2011). A abordagem parte da hipótese que a qualificação do produto introduz uma dimensão de reciprocidade numa relação de troca mercantil. Os processos de qualificação podem contribuir para estabelecer uma relação de reciprocidade simétrica entre produtores e consumidores (TEMPLE, 2003). Os mesmos podem também concorrer para criar 1 Este artigo foi realizado a partir de uma comunicação apresentada no III° Colóquio "Agricultura Familiar e Desenvolvimento Rural" organizado pelo PGDR-UFRGS. Porto Alegre-RS, 17 e 18 de novembro de 2011. 2 Antropólogo e sociólogo, pesquisador do CIRAD, UMR ART-Dev, TA 113/C.
Origine : Fichiers produits par l'(les) auteur(s)
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