Basquiat – Traços de Uma Vida (1996): A modernidade das aparências
Résumé
A síntese do enredo deixa a impressão de um desenvolvimento cronológico da vida de Basquiat. O filme de Julian Schnabel, no entanto, é mais sutil: cria um retrato poético pela utilização de vários efeitos plásticos do meio cinematográfico, como sobreposição de imagens (o rosto de Basquiat sobreposto por imagens recorrentes de ondas), dissociação de quadros (quando a câmera de Schnabel quer descrever uma situação, tenta desenhar um espaço indefinido e mais abstrato do que um espaço específico) e uma trilha sonora rica — composta por Public Image, The Rolling Stones, Grandmaster Flash, Joy Division, The Pogues e “A Small Plot of Land”, faixa do álbum Outside (1995)de Bowie, que marca o retorno às suas raízes artísticas. O ensaio a seguir é menos uma reflexão sobre Basquiat e a forma como foi retratado por Schnabel e mais um ponto de partida para refletir sobre a relação de David Bowie com Andy Warhol. Longe de mim a ideia de considerar o filme mero pretexto para falar sobre eles. Pelo contrário, retomando a distinta aparição de Bowie em Basquiat, tento estabelecer correspondências com outras referências diretas ou indiretas a Warhol em seu trabalho. Creio que seja essa uma das possibilidades de pensar no gesto artístico como parte de um modernismo reificado pela imagem. Vou investigar a relação entre os artistas enquanto uma modernidade das aparências: qual a importância de Warhol na construção artística de Bowie? A problemática da superfície revela alguns aspectos contraditórios da “cultura pop”: como pensar na natureza de suas obras dentro do sistema da “indústria de massa?” Quero expor essa questão com base na teoria de Peter Bürger sobre a vanguarda artística, da qual pude colher fragmentos no filme de Schnabel.